segunda-feira, 27 de setembro de 2010


Ismael Silva é considerado por Chico Buarque seu “verdadeiro pai musical”. O sambista nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, no dia 14 de setembro de 1905, foi um dos fundadores da primeira escola de samba, no final da década de 20, a qual deu o nome de Deixa Falar. Tido por Vinicius de Moraes como um dos três maiores sambistas de todos os tempos, Ismael tem em seu currículo o nome de músicos famosos como parceiros, destacando-se entre todos eles Noel Rosa e Lamartine Babo. Descoberto por Francisco Alves em 1927, o inventor do samba carioca como se conhece hoje é o autor de várias canções célebres do nosso cancioneiro, entre elas “Se você jurar”, em parceria com Nilton Bastos, “Adeus”, parceria com Noel Rosa e “Antonico”, um de seus últimos sucessos. Depois de ser regravado por artistas como Beth Carvalho, Clara Nunes e Cristina Buarque nos últimos anos de sua vida, Ismael Silva morreu no dia 14 de março de 1978, aos 72 anos, e para sempre será lembrado como um dos grandes nomes da música brasileira. Se estivesse vivo, ele completaria 105 anos nesse mês de setembro.

Antonico

Composto em 1950 por Ismael Silva, o samba “Antonico” foi registrado por ele próprio em disco em 1973, fruto do espetáculo “Se você jurar”, dirigido por Ricardo Cravo Albin. Em 1967, Elza Soares já o havia gravado no disco “Elza, Miltinho e Samba”, em que cantava algumas músicas ao lado do cantor Miltinho. Apesar das constantes negativas de Ismael, especula-se que a música seja autobiográfica, devido às dificuldades financeiras que o compositor passou após sair da prisão. Em uma carta escrita por Pixinguinha em 1939, endereçada ao musicólogo Mozart de Araújo, ele dizia: “Espero que o que puder fazer pelo Ismael seja como se fosse por mim.” Quase os mesmos versos presentes no samba “Antonico”.



Se você jurar

O samba “Se você jurar”, composto em 1931, tornou-se uma das músicas mais conhecidas do repertório de Ismael Silva. Grande sucesso no carnaval daquele ano, cantada pela dupla Mário Reis e Francisco Alves, “Se você jurar” recebeu diversas regravações, entre elas as de Beth Carvalho, João Bosco e Casuarina. Além disso, alimentou-se por muito tempo uma polêmica sobre a autoria da canção. Orestes Barbosa e Mário Reis afirmavam que ela era apenas de Nilton Bastos, Francisco Alves dizia que era dele e de Nilton, e Ismael Silva garantia que a compusera ao lado de Nilton.

Raphael Vidigal

Lido na Rádio Itatiaia dia 26/09/2010.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010


Na primeira quarta-feira do mês de agosto desse ano, a cantora Leny Eversong, dona de uma das mais potentes vozes que o Brasil já teve, teria completado 90 anos de idade.
Leny, que nasceu Hilda Campos Soares da Silva, começou a carreira aos 12 anos, cantando no programa “A Hora Infantil”, na Rádio Clube de Santos, cidade onde nasceu. Demonstrando desde o início seu enorme talento para interpretar foxes estrangeiros, Leny logo passou a ser chamada de Hildinha, a Princesa do Fox. Pouco tempo depois, ela deixaria para trás o nome em português, mas não abandonaria as canções estrangeiras, passando a se especializar também em outros ritmos, como jazz, bolero e blues. Ela, que não falava nada em inglês, anotava na mão a pronúncia das palavras e era proibida por seu empresário de dar entrevistas fora do Brasil, arriscando no máximo alguns “all right´s” e “ok´s”.



A partir da metade da década de 50, Leny passou a receber convites frequentes para se apresentar anualmente em Las Vegas e fazer shows pela Europa, já que a essa altura também cantava (e muito bem) em outras línguas, como italiano, espanhol e francês, e tudo isso sem saber falar o idioma.
Apesar da enorme fama da qual já desfrutava no exterior, Leny nunca obteve no Brasil o reconhecimento que lhe era devido, e gravou poucas vezes em português, numa dessas tendo feito registros históricos de músicas que seriam sucesso mais tarde na voz de Elis Regina, a exemplo de “Aleluia”, de Edu Lobo e Ruy Guerra, e “Arrastão”, a música que lançou Elis no Festival da Canção, também de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.



No início da década de 70, quando seu marido desapareceu supostamente seqüestrado por traficantes que o confundiram com seu filho (mais tarde ele seria preso acusado de envolvimento com drogas), Leny não quis saber mais de música e se refugiou por um tempo na casa do amigo e cantor Agnaldo Rayol. Conhecida por sua figura gorda e loura e sua voz que alcançava tons extremos, Leny ficou deprimida, teve diabetes e raramente apareceu em alguns programas televisivos. Nunca mais gravou um disco. Aquela figura alegre, expansiva, que falava alto e comia muito já não existia mais.
No dia 29 de abril de 1984, pouco tempo depois de ter as duas pernas amputadas, Leny morreu aos 63 anos, e sua voz desapareceu definitivamente.
Entre seus maiores sucessos estão Jezebel, gravada por ela em 1956 e Summertime e St Louis Blues, sucessos em inglês gravados em 1957. Além disso, foi responsável por lançar o cantor Juca Chaves, ao gravar uma música sua quando ele tinha então 16 anos, e ajudou Cauby Peixoto no início da carreira.
Hoje em dia, ainda é possível encontrar seus discos sendo vendidos pela internet por preços que variam entre R$80 e R$150, e em 2007, o jornalista e produtor musical Rodrigo Faour, lançou uma coletânea de Leny Eversong através da série Grandes Vozes, editada pela Som Livre.
Leny Eversong tornou-se artigo de colecionador, raridade, mas sua voz poderosa, afinada e límpida é a prova maior do valor de uma cantora de inquestionável qualidade.



(Matéria publicada no jornal "Hoje em Dia")

Raphael Vidigal

domingo, 12 de setembro de 2010

A história de como Hélio Costa tornou-se o candidato do PT em Minas



A quatro meses das convenções partidárias, o PT vive em Minas Gerais situação parecida com a que seu rival histórico, o PSDB, vive no plano nacional. E o problema começou justamente quando integrantes do partido resolveram deixar a rivalidade de lado e uniram-se ao PSDB para levantar a bandeira branca de Márcio Lacerda, mais ou menos como se Cruzeiro e Atlético se unissem para torcer juntos pelo América.
Agora, a estrela vermelha está mais rachada do que nunca em Minas, e a briga é para ver quem consegue juntar mais pedaços, pois se uma estrela tem cinco pontas e a disputa está dividida em dois dentro do partido, a matemática prova que alguém há de sair ganhando.



Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte e atual Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, conta com o apoio dos petistas mais fiéis, aqueles que não se uniram ao PSDB nas últimas eleições, e do PC do B, que teve sua candidata Jô Moraes apoiada por ele, enquanto Fernando Pimentel, que também já foi prefeito da cidade, tenta unir à sua candidatura a nova safra, os mais flexíveis, aqueles que aceitam trocar beijos com os tucanos em prol de uma governabilidade mais ampla.
Esse imbróglio dentro do partido do presidente Lula faz com que Antônio Anastasia, o candidato da continuidade, do governador Aécio, enfim, do PSDB, saia na frente da disputa por já estar há mais tempo nas ruas fazendo campanha, da mesma forma com que Dilma cresce devido à indefinição entre Serra e Aécio no plano nacional.
No entanto, o problema maior do PT não é seu inimigo, nem ele próprio, é justamente seu melhor amigo, aquele em quem ele confia, a quem confessa seus pecados. O PMDB, principal aliado da base governista, exige que o candidato ao governo do Estado seja Hélio Costa, Ministro de Comunicações e ex-senador por Minas, e que sua candidatura seja apoiada também pelo Partido dos Trabalhadores, que não deveria lançar nenhum outro candidato além de Hélio.



Confusão armada, pois o PT, com dois interessados na disputa e com boas possibilidades de vencerem as eleições (Patrus e Pimentel já foram prefeitos de Belo Horizonte), já acha complicado convencer um dos dois a desistir, como foi complicado para o PSDB convencer Aécio, ainda mais os dois.
Para completar, o vice-presidente da República, José Alencar, integrante do nanico partido PRB, também tem seu nome aventado como um dos possíveis candidatos caso restabeleça sua saúde, o que poderia unir PT, PMDB e PC do B num só pacote, mas nada garantido, pois há quem diga que diferentemente de Pimentel e Patrus, Hélio Costa não desiste.
E aí fica complicado para o presidente Lula não apoiar seu vice, não apoiar seu Ministro ou mesmo os integrantes do seu partido, que embora bem menor que o Lulismo, ainda existe, e se chama PT, mais do que nunca perdido, precisando se decidir em um dilema parecido com o da Escolha de Sofia, e nesse clima cinematográfico só há uma certeza: Alguém tem que ceder...resta saber quem. Daqui a pouco “O Cara” pede a seu amigo Obama que convoque Diane Keaton e Jack Nicholson para lhe ajudar. Não vai ser fácil costurar essa estrela.



Raphael Vidigal

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