Também completaria 100 anos em 2010, o compositor, regente e instrumentista, Osvaldo Gogliano, conhecido no meio musical como Vadico. Filho de imigrantes italianos, Vadico nasceu em São Paulo no dia 24 de junho de 1910 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 11 de junho de 1962, aos 51 anos, após sentir-se mal e sofrer um ataque cardíaco durante uma gravação. No ano de 1930, seu samba “Arranjei outra”, em parceira com Dan Mallio Carneiro, foi gravado na Odeon por Francisco Alves. Em 1932, o compositor, pianista e regente, Eduardo Souto, o apresentou a Noel Rosa, com quem formaria uma histórica parceria, que inclui, entre outras, músicas como “Feitio de Oração”, “Provei”, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila” e “Pra quê mentir?”. Ao todo, foram 10 músicas em parceria com Noel. Nessas composições, Vadico fazia as melodias para que depois Noel Rosa colocasse as letras. Após a morte de Noel em 1937, Vadico embarcou para os Estados Unidos com a Orquestra Romeu Silva para tocar no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York, quando também se exibiram Carmen Miranda e o Bando da Lua. Nessa ocasião, Vadico conheceu Carmen e passou a atuar como pianista dela. Já em 1943, a convite do próprio Walt Disney, o compositor musicou o desenho "Saludos, amigos", onde o personagem Zé Carioca aparecia como símbolo do Brasil. Na década de 50, Vadico voltou ao Brasil e passou a trabalhar como pianista e orquestrador para a gravadora Continental e para a Rádio Mayrink Veiga. Nesse período, tocou com o cantor Jamelão e teve seu samba-prelúdio "Prece", considerado pela crítica como uma de suas músicas mais inspiradas, gravado por Helena de Lima e pelo Trio Nagô. Além disso, compôs com Vinícius de Moraes a música "Sempre a esperar", gravada no LP "Elizeth interpreta Vinicius", da cantora Elizeth Cardoso, lançado pela Copacabana em 1963. Por essas e outras é possível perceber que Vadico foi muito mais do que somente o parceiro musical de Noel Rosa.
Raphael Vidigal
Foto: Vadico e Tom Jobim em Copacabana, Rio de Janeiro.
Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato, nasceu na verdade no dia 6 de agosto de 1912 na cidade de Valinhos, interior de São Paulo, mas tem o seu centenário comemorado em 2010 porque teve o seu registro alterado para o ano de 1910, para que conseguisse trabalhar. Adoniran era um artista no sentido vivo da palavra. Filho de imigrantes italianos, seu primeiro sucesso no rádio foi como ator, no programa criado por seu amigo e parceiro Osvaldo Moles, onde interpretava o personagem “Charutinho”, que já se caracterizava pelo sotaque paulista caipira bem italianado. Esse personagem típico da paisagem urbana da cidade de São Paulo seria a grande inspiração para que Adoniran criasse sambas como “Saudosa Maloca”, “Trem das Onze”, “Tiro ao Álvaro”, etc. Nesses sambas, Adoniran utilizava todo o seu talento de cronista da fala, exaltando a poesia escondida, mas sempre presente, do povo da cidade. Não bastasse isso, Adoniran ainda foi parceiro musical de Vinicius de Moraes por correspondência. Vinicius enviou os versos de “Bom dia tristeza”, sucesso na voz de Maysa, para Aracy de Almeida, dizendo a ela para fazer o que quisesse com aquela letra. Ela então levou os versos até o seu amigo Adoniran Barbosa, e esse colocou a melodia numa das mais belas e melancólicas canções brasileiras de todos os tempos, provando seu talento como compositor nos mais diversos gêneros. Aos 72 anos, Adoniran partiu em seu trem das onze ao encontro de Iracema no dia 23 de novembro de 1982, mas sua fala rouca, seu humor mordaz e sua incrível capacidade de dizer coisas bonitas com simplicidade ficaram para sempre no imaginário do povo brasileiro.
Raphael Vidigal