quarta-feira, 22 de setembro de 2010


Na primeira quarta-feira do mês de agosto desse ano, a cantora Leny Eversong, dona de uma das mais potentes vozes que o Brasil já teve, teria completado 90 anos de idade.
Leny, que nasceu Hilda Campos Soares da Silva, começou a carreira aos 12 anos, cantando no programa “A Hora Infantil”, na Rádio Clube de Santos, cidade onde nasceu. Demonstrando desde o início seu enorme talento para interpretar foxes estrangeiros, Leny logo passou a ser chamada de Hildinha, a Princesa do Fox. Pouco tempo depois, ela deixaria para trás o nome em português, mas não abandonaria as canções estrangeiras, passando a se especializar também em outros ritmos, como jazz, bolero e blues. Ela, que não falava nada em inglês, anotava na mão a pronúncia das palavras e era proibida por seu empresário de dar entrevistas fora do Brasil, arriscando no máximo alguns “all right´s” e “ok´s”.



A partir da metade da década de 50, Leny passou a receber convites frequentes para se apresentar anualmente em Las Vegas e fazer shows pela Europa, já que a essa altura também cantava (e muito bem) em outras línguas, como italiano, espanhol e francês, e tudo isso sem saber falar o idioma.
Apesar da enorme fama da qual já desfrutava no exterior, Leny nunca obteve no Brasil o reconhecimento que lhe era devido, e gravou poucas vezes em português, numa dessas tendo feito registros históricos de músicas que seriam sucesso mais tarde na voz de Elis Regina, a exemplo de “Aleluia”, de Edu Lobo e Ruy Guerra, e “Arrastão”, a música que lançou Elis no Festival da Canção, também de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.



No início da década de 70, quando seu marido desapareceu supostamente seqüestrado por traficantes que o confundiram com seu filho (mais tarde ele seria preso acusado de envolvimento com drogas), Leny não quis saber mais de música e se refugiou por um tempo na casa do amigo e cantor Agnaldo Rayol. Conhecida por sua figura gorda e loura e sua voz que alcançava tons extremos, Leny ficou deprimida, teve diabetes e raramente apareceu em alguns programas televisivos. Nunca mais gravou um disco. Aquela figura alegre, expansiva, que falava alto e comia muito já não existia mais.
No dia 29 de abril de 1984, pouco tempo depois de ter as duas pernas amputadas, Leny morreu aos 63 anos, e sua voz desapareceu definitivamente.
Entre seus maiores sucessos estão Jezebel, gravada por ela em 1956 e Summertime e St Louis Blues, sucessos em inglês gravados em 1957. Além disso, foi responsável por lançar o cantor Juca Chaves, ao gravar uma música sua quando ele tinha então 16 anos, e ajudou Cauby Peixoto no início da carreira.
Hoje em dia, ainda é possível encontrar seus discos sendo vendidos pela internet por preços que variam entre R$80 e R$150, e em 2007, o jornalista e produtor musical Rodrigo Faour, lançou uma coletânea de Leny Eversong através da série Grandes Vozes, editada pela Som Livre.
Leny Eversong tornou-se artigo de colecionador, raridade, mas sua voz poderosa, afinada e límpida é a prova maior do valor de uma cantora de inquestionável qualidade.



(Matéria publicada no jornal "Hoje em Dia")

Raphael Vidigal

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