segunda-feira, 28 de novembro de 2011


“mais vale ficar olhando para o céu do que morar aqui. Lugar mais vazio, mais vago! Nesta terra o trovão bate e tudo some.” Truman Capote


Dançavam num salão celestial. Os pés eram carregados por pequeninas asas. As mãos sopravam de leve pela cintura, como a libélula toca na água. Os rostos se encontravam em narizes empinados e bocas amenas. Um intervalo condensado e eterno entre a proposição e o convite. Duas hesitações. Duas vidas em suspenso, executadas no sentido contrário aos ponteiros do relógio.

Quando acordou, lembrou-se de sua partida. Não acreditava que se fora. Aparecia com tanta realeza naquela noite. Movia-se e seus passos eram sentidos no assoalho. Sua presença era física. Não havia dúvidas.

Haviam se casado, recordavam lembranças, memórias novas. Aventuras jamais vistas em planos retilíneo-uniformes. Lívida e dispersa em aves de frases cortadas. Pontiagudos bicos dourados. Brincos da Deusa Africana puxa as orelhas embranquecidas.

Ladrilhos, esses que se acostuma a passar sem legar referência. Ladrilhos que se uniam às patas do animal-carruagem. Esmerilhados e brilhosos. Cítaras desprevenidas eram lambidas, corando-lhe de rubor os tentáculos. Curando-lhe a maldição azulada. Currando-nos sem traquejo ou malaio.

Você não imagina a falta que faria na minha vida, se algo lhe acontecesse. Tanta vontade em fazer as coisas certas, acertar os passos. Inunda em sorrisos espaçosos. A gente existiu

Uma menina a andar de costas num chão espectral (de vidro) espiral. Espelhado. Porque a vontade é maior que a necessidade. Carpideira, carpintaria. Fosse os olhos da menina. A gente se acostuma a essa visão embaçada da

realidade

Parece a dança das cores lisas. Perece. Marasmo. Maçãs e laranjas. Como uma vitória-régia se abre: cada vez que tocamos seu nome é como se ela está um pouco entre nós. Não dá para se camuflar uma emoção. Não se abrande, a fome do leão, o vento carregando formigas, cigarras, louva-Deus. Que a gente a maior parte do tempo não se vê e sente a nossa presença. Deixamos reflexos.

Herdei a impaciência dos montes ancestrais, por vezes é quase inacreditável a sua morte.

Crisântemos enfileiram caminho da nossa valsa para as estrelas. Na divisão dos meus olhos, encontro da onda e areia, trisca meus cílios: Diáfana.

Raphael Vidigal

Pintura: "Bailarinas de azul", de Edgar Degas.

1 comentários:

Alessandra Rezende disse...

"Os rostos se encontravam em narizes empinados e bocas amenas. Um intervalo condensado e eterno entre a proposição e o convite. Duas hesitações. Duas vidas em suspenso, executadas no sentido contrário aos ponteiros do relógio."

"Cítaras desprevenidas eram lambidas, corando-lhe de rubor os tentáculos. Curando-lhe a maldição azulada. Currando-nos sem traquejo ou malaio."

"Crisântemos enfileiram caminho da nossa valsa para as estrelas. Na divisão dos meus olhos, encontro da onda e areia, trisca meus cílios: Diáfana".


PERFEITO !!!!
Texto limpo, delicado, tocante, amante! hehe
Gostei mto desse, Rapha! Cada vez mais vc me surpreende!
Parabéns!!

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